quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Convite para lançamento de "Os homens de nossas vidas - o que as mulheres conversam no banheiro", com leitura de crônicas do livro

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Os homens de nossas vidas - o que as mulheres conversam no banheiro é uma coletânea de crônicas bem-humoradas sobre relacionamento homem-mulher, baseadas em fatos reais, que presenciei ou me foram relatados.

Trecho da crônica de abertura

OS ANOS LOUCOS

Nem dá pra imaginar o que teriam sido os chamados "anos loucos" - a década de 20 - em Paris. Para uma época passar à história com esse nome, deve ter sido pra lá de interessante.
Mas no Rio de Janeiro a década de 70 também não ficou atrás. Apesar do que acontecia no país e nas prisões, do ponto de vista de quem tinha decidido aproveitar a vida o mar estava pra peixe: feminismo, hippismo, pílula, revolução sexual... E as modas se multiplicavam.
Num determinado momento, resolveu-se que os casamentos tinham a possibilidade de serem "abertos". Ou seja, continuava-se casado, mas quem quisesse podia ir à luta e transar com outras pessoas. Como se isto pudesse funcionar e não pirasse a cabeça dos envolvidos.
Foi aí que um casal moderníssimo – Nair e Chico - se atolou neste pântano.
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Saiba a continuação assistindo à leitura dramática do dia 7 e/ou lendo o livro.
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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Comemorando com atraso o Dia da Consciência Negra

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A propósito de racismo, vejam um trecho de uma das crônicas do meu livro Os homens de nossas vidas - o que as mulheres conversam no banheiro, que será lançado dia 7 de dezembro.

.A SEREIA E O SÍNDICO

.Fabíola, mulata linda, figura mignon mas de seios fartos, morava com a filha num apartamento em Copacabana. Prédio pequeno, de três andares, sem elevador. Quatro apartamentos por andar.
.Os moradores, quase todos mais velhos e caretas. Classe média bem média. Certamente racistas, preconceituosos. Mal cumprimentavam a moça e a filha. Aquelas negrinhas...
.Fabíola destoava daquela gente. Não estava nem aí. Mulher exuberante, tinha muitos amigos, que recebia em sua casa cheia de vasinhos de flores nas janelas. Às vezes dava festas, que invariavelmente lhe valiam reclamações. Não foi uma nem duas vezes que algum vizinho de ovo atravessado chamou a polícia por causa do barulho. Mas tudo ficava por isso mesmo. Coisa corriqueira. Fabíola, tranquila, ia levando sua vidinha.
.Numa noite fria de sexta-feira, ela, cansada, resolveu dormir cedo. Chegou do trabalho, tomou banho, uma sopinha, vestiu o pijama, enrolou-se no edredom e ligou a televisão para chamar o sono. Estava quase dormindo quando a campainha tocou. Pensou que fosse no vizinho, e esperou. Daí a pouco, tocou novamente. Era em sua casa mesmo. Descalça e de pijama, chegou até a porta e perguntou quem era, sem abrir.
.Lá fora um homem esbravejava, furibundo: "Se a senhora não parar com essa barulhada agora mesmo, vou pessoalmente à polícia e venho com o batalhão inteirinho até aqui!". Era o síndico.

PARA SABER A CONTINUAÇÃO DA HISTÓRIA, COMPAREÇA À LEITURA DRAMÁTICA NA CASA DA GÁVEA, DIA 7 DE DEZEMBRO, QUANDO O LIVRO SERÁ LANÇADO.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

"Uma burca para Geisy", sensacional cordel de Miguezim de Princesa

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I
Quando Geisy apareceu
Balançando o mucumbu
Na Faculdade Uniban,
Foi o maior sururu:
Teve reza e ladainha;
Não sabia que uma calcinha
Causava tanto rebu.

II
Trajava um mini-vestido,
Arrochado e cor de rosa;
Perfumada de extrato,
Toda ancha e toda prosa,
Pensou que estava abafando
E ia ter rapaz gritando:
"Arrocha a tampa, gostosa!"

III
Mas Geisy se enganou,
O paulista é acanhado:
Quando vê lance de perna,
Fica logo indignado.
Os motivos eu não sei,
Mas pra passeata gay
Vai todo mundo animado!

IV
Ainda na escadaria,
Só se ouvia a estudantada
Dando urros, dando gritos,
Colérica e indignada
Como quem vai para a luta,
Chamando-a de prostituta
E de mulherzinha safada.

V
Geisy ficou acuada,
Num canto, triste a chorar,
Procurou um agasalho
Para cobrir o lugar,
Quando um rapaz inocente
Disse: "oh troço mais indecente,
Acho que vou desmaiar!"

VI
A Faculdade Uniban,
Que está em último lugar
Nas provas que o MEC faz,
Quis logo se destacar:
Decidiu no mesmo instante
Expulsar a estudante
Do seu quadro regular.

VII
Totalmente escorraçada,
Sem ter mais onde estudar,
Geisy precisa de ajuda
Para a vida retomar,
Mas na novela das oito
É um tal de molhar biscoito
E ninguém pra reclamar.

VIII
O fato repercutiu
De Paris até Omã.
Soube que Ahmadinejad
Festejou lá no Irã,
Foi uma festa de arromba
Com direito a carro-bomba
Da milícia Talibã.

IX
E o rico Osama Bin Laden,
Agradecendo a Alá,
Nas montanhas cazaquistãs
Onde foi se homiziar
Com uma cigana turca,
Mandou fazer uma burca
Para a brasileira usar.

X
Fica pra Geisy a lição
Desse poeta matuto:
Proteja seu bom guardado
Da cólera dos impolutos,
Guarde bem o tacacá
E só resolva mostrar
A quem gosta do produto.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Meu artigo sobre o caso Geisy, publicado no Jornal do Brasil de ontem

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Em atenção a Geisy
Cláudia Versiani

Betty Friedan deve estar se revirando na tumba. Mais de quarenta anos depois do movimento feminista que ela liderou, a estudante Geisy Arruda quase foi expulsa da Universidade Bandeirantes (Uniban), depois de agredida pelos colegas por estar de roupa curta e justa.

Nessa época de cachorras, de cervejaria cujo nome é um adjetivo pejorativo para denominar mulheres ditas “fáceis” e de outros que tais, o que pensar? Vivemos uma regressão? A sociedade esqueceu o passado? A juventude, mais pragmática e menos ideológica, é alienada e não está nem aí? As mulheres abriram mão de suas conquistas, ou talvez desconheçam os direitos pelos quais se bateram as que vieram antes delas?

Não sejamos pessimistas. Nem tudo está perdido. A Diretoria de Mulheres da União Nacional dos Estudantes (UNE) lançou nota exemplar. Vale reproduzir alguns trechos:

“É (...) fruto de uma construção cultural, e não biológica, que os homens não podem controlar seus instintos sexuais e as mulheres devem se resguardar em roupas que não ponham seus corpos à mostra. (...) As mulheres devem seguir regras de conduta e comportamento ideais, a partir de um padrão estético que as condiciona a viver sob as rédeas da sociedade (...).

Esse desfecho (tentativa de expulsão da aluna), somado às diversas abordagens distorcidas do fato na mídia, demonstram a situação de opressão que todas nós, mulheres, vivemos em nosso cotidiano. Situação em que mulheres, e tudo o que está relacionado a elas, são desvalorizadas e depreciadas. A mulher é vista como uma mercadoria - ora utilizada para vender algum produto, ora tolhida de autonomia e direitos, ora violentada, estigmatizada e depreciada. É essa concepção que acaba por produzir e reproduzir o machismo, violência e sexismo próprios do patriarcado. Tal concepção permitiu o desrespeito à estudante.

Nós, mulheres estudantes brasileiras, em contraposição a essa situação, estamos constantemente em luta até que todas as mulheres sejam livres do machismo, da violência, do desrespeito e da opressão que nos cerca.

Repudiamos o ato de violência dos alunos contra a estudante de turismo, repudiamos a reação da mídia que insiste em mistificar o fato e não colocar a violência de cunho sexista no centro do debate, e denunciamos a atitude da universidade de punir a estudante ao invés daqueles que provocaram tal situação.”

É curioso – e dramático – que Geisy, e não seus agressores, tenha sido vista como merecedora de punição tão drástica. Mas é também curioso e dramático que, anos atrás, um amigo promotor de justiça, pessoa que considerávamos dos “nossos”, da turma de praia e chope, tenha justificado o ato de um estuprador pela roupa pouco decente que a vítima usava. Tal e qual a direção da Uniban, que tentou expulsar a moça. Tal e qual denuncia a nota da UNE.

O machismo e a violência sexista têm raízes profundas. São muitos séculos, muitos milênios. Confúcio já dizia que a mulher é o que há de mais corrupto e corruptível. Aristóteles a considerava como um homem inferior. As Leis de Manu, livro sagrado da Índia, dizem que uma mulher nunca deve governar a si própria. O Alcorão afirma que não se legou maior calamidade ao homem do que a mulher. Petrarca achava a mulher inimiga da paz, fonte de inquietação, causa de brigas que destroem a tranquilidade. Até mesmo Hegel garantia que a mulher pode ser educada, mas que sua mente não é adequada às ciências mais elevadas, à filosofia e a algumas das artes.

Com tantos antecedentes, não é de se espantar o que aconteceu. Muita água passou por debaixo da ponte. As coisas mudaram. Mas nem tanto. A Uniban e os seus alunos estão aí mesmo para esfregar na nossa cara, na cara da Geisy, o resultado desse aprendizado e desse treinamento milenar a que os homens – e também as mulheres - foram submetidos.

Mas não desanimemos. Encaremos a questão de modo dialético. A realidade é contraditória e está em permanente transformação. São três passos para frente e dois para trás. Salva-se um passo, que foi andado e do qual não abdicaremos.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

LANÇAMENTO DE
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OS HOMENS DE NOSSAS VIDAS
o que as mulheres conversam no banheiro
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7 de dezembro, segunda-feira, às 19h
Casa da Gávea
(Pça. Santos Dumont, 116)


Em seguida, às 21h, haverá leitura dramática de crônicas do livro, com as atrizes

Alice Morena, Ana Collete, Ângela Vieira, Catarina Abdalla, Cláudia Versiani, Letícia Spiller, Lorena da Silva, Luísa Thiré, Tereza Seiblitz e o ator Paulo Antunes. A direção é de Jitman Vibranovski, e a entrada é franca.

Aguardo todos lá, para ver e ouvir a leitura e tomar um chopinho oferecido pelo

Os homens de nossas vidas - o que as mulheres conversam no banheiro é uma coletãnea de crônicas bem-humoradas sobre relacionamento homem-mulher, baseadas em fatos reais, que presenciei ou me foram relatados.

Agradeço aos amigos que me ajudaram a escolher a cor da capa. Como viram, a que ganhou foi a laranja, desenhada por Arthur Fróes e Mana Pontez, sobre foto de Guina Ramos.